um amigo se veste de anjo,
roupas gastas dos ancestrais,
olhar doce que faz
nosso riso despojar
a dureza que pode ser a vida
um amigo revela-se
de tempos atrás,
no quando o encontro
era sem-nome
e o vento deixava
sua caligrafia nas pedras
e a voz das águas,
a cartilha de uma época
em que tudo era
um pouco do que faltava
um amigo se expressa
na delicadeza,
mesmo em brutais horas infernais
em que parece faltar
mas o princípio, do amigo,
é não ter fim
e se expandir
atravessando ausências
que ele próprio não sabe existir
um amigo se veste de nós
quando precisamos ouvir
nossa própria voz.
e sempre precisamos
de um amigo que se transvista de
infância
para que a recobramos
|Alex Dias, 12 de outubro de 2014