domingo, 12 de outubro de 2014

|primeiro ensaio à criança que sempre volta


um amigo se veste de anjo,
roupas gastas dos ancestrais,
olhar doce que faz
nosso riso despojar
a dureza que pode ser a vida

um amigo revela-se
de tempos atrás,
no quando o encontro
era sem-nome
e o vento deixava
sua caligrafia nas pedras
e a voz das águas,
a cartilha de uma época
em que tudo era
um pouco do que faltava

um amigo se expressa
na delicadeza,
mesmo em brutais horas infernais
em que parece faltar

mas o princípio, do amigo,
é não ter fim
e se expandir
atravessando ausências
que ele próprio não sabe existir

um amigo se veste de nós
quando precisamos ouvir
nossa própria voz.

e sempre precisamos

de um amigo que se transvista de infância
para que a recobramos





|Alex Dias, 12 de outubro de 2014