no
BRANCO
acre
o
algodão
dissolve-se
pranto
tátil
sobre o
teto
fino
que não
encobre
lembranças
sonhos
sensações
de cobre
abaixo
da grande boca de prata
com seus
dentes pontiagudos
e dóceis
na
varanda do agreste o seco esterco
a prata
esplêndida vaza as natas
e o bafo
de uma terra cálida
levanta
vozes embriagadas
de vida e
ossos
seria
meio-dia o corpo acusa:
secura
nos lábios
a
garganta nua
seria
meia-noite a brisa indica:
tremores
noturnos
a alma
roça
seria a
hora tarda
o
pêndulo claro
o vadio sumo-sangue
exíguo
exato
entre a
clareza e a loucura
em que
se chocam
astros
embate
de volúpias
entre a
fera escura
e o cio
do orvalho
a vida
em construção
edifício
sem cobertura
sacadas com
flores
sacadas
com cactos
sacadas
grades
janelas
vidro
metal
cortinas
sacadas
sem
parapeitos
o
operário cerra o ferro
assenta
o bloco
a vida
mosaica
pelos
tijolos
e sons
de animais metálicos
brutos
ferozes
animais que não conhecem paz
bichos
das guerras
dos
ermos dentados das grutas
destroem
(constroem)
com a
mesma força que lhes movem
as
energias artificiais
o branco
ACRE
então se
assenta
na tinta
fresca
e gasta
a brancura
frágil
faxineiras
e limpadores
especializados
arriscam
as suas colunas
para
salvar as falsas nuvens
o áspero
o
concreto
a terra
a
cal
a
pedra
o ferro o branco
os canos
a
umidade
o
cheiro
o
bolor
os azulejos:
o
gesso
saltam
da matéria branca
para o
BRANCO
acre:
a luz
em cor
matura
os
objetos que preservam
raios
luminosos
em
clareza máxima
um instante solar
navega
as horas negras:
uma elipse
no branco
um vago
vislumbre de um
piscar
de olhos
os
ossos da casa
rangiam
o ventre túmido
dos
frutos espalhados
nas
telas
beleza
selvagem
saltava
beleza
em
estado orgânico
dos
seres de frente
às
suas cavernas
ARMADOS
silenciosamente
armados
em
peles
ossos
iluminados
assistindo
o medo
irrequieto e nulo
a
perder a forma
a
perder o escuro
a
mirar o tempo
faminto e antigo
soletrar
o pouco
e
juntar os cacos
de
um relógio
novo
amanhecido
à luz
dos
ossos da casa velha
reencontrados
em brasas
na
lareira para novos desastres
uma
miragem dançava vaga
pela
tênue linha dourada
da carta
e
num mar de lembranças pratas
adormecia
um
vermelho chamado magma
uma
paixão
um
deserto
uma
folha branca
solta
no espaço
uma
criança empunhando a espada